Raskólnikov
O desprezo contido nos lábios rígidos
É o sinal de insatisfação com o meio.
Não vale nada o que vejo ou o que leio,
Tudo me enjoa nesses ares lívidos.
Caminho por onde sopra o degredo!
Quanto mais só, ótimo será
Para a misantropia que aumentará
A angústia do meu segredo.
Sinto repúdio pelas pessoas ignaras
Que rondam meu aposento no mundo.
Sou um homem altivo e profundo,
Ávido por descobertas raras.
Com afã, intento sair da introspecção fugaz
Que faço da vida boêmia e errônea;
Sublimo a vontade momentânea
Na idealista visão cósmica perspicaz.
Contudo, no âmago, o desespero é lancinante
E a indiferença é um ludíbrio psicológico.
Descubro nesse passeio ontológico
Que sou uma formiga insignificante!
Maio/2010