DISFARCE DE LUA

Viveu tanto tempo sozinha

como lua no céu da noite escura

sendo por muitos desprezada

pensando ser apenas um nada

pequeno grão de areia no universo

Sentiu-se diferente com a indiferença

perdeu a luminosidade da inteligência

para não ofuscar o brilho do sol

Já não tinha valor para si nem para outro

pagava juros sem nunca receber desconto

e acabou perdendo o crédito de ser

restando ainda um saldo vermelho a cobrir

Acreditava não ter mais saída

depois de trancar sentimentos e alegria

e outra luz já não via

senão aquela que lhe surgia todo dia

sem, no entanto, iluminar e aquecer

Vagando abandonada pela rua

tendo a figura de um lar desabado

no abrigo de quatro paredes levantadas

Na solidão morava com a certeza

que não veriam mais sua beleza

nem o que percorria sua alma

tampouco a grandeza do sentimento

e seu conhecimento e sabedoria infindos

Passou tempos e tempos sem destino

conformando-se com a sina imposta

deu as costas para a tristeza

porém, não contemplou a face do contentamento

até que o sol se pôs no ocaso

e uma estrela fez-lhe um agradecimento

louvando seu existir

Janete do Carmo
Enviado por Janete do Carmo em 07/04/2010
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