CICATRIZ
No princípio apareciam só as boas brincadeiras.
Na minha liberta infância pueril, linda e juvenil...
Surgiam árvores, pássaros, flores e borboletas.
O esconde-esconde, pega-pega, banhos de rio.
Então veio um sol horroroso, sem brilho...
Um vento negro, frio, triste e misterioso.
Uma tempestade sêca que não tinha cor,
Veio como a me anunciar um ato maldoso,
Que me daria calafrios e uma imensa dor.
Animal agarrado em mim de forma brutal,
Não pude reagir aos seus braços fortes.
Senti um pêso muito maior que a morte,
Uma agonia extrema de um destino fatal.
A suas volúpias se misturavam ao meu intenso tremor,
E as lágrimas ao vermelho do sangue da carne ferida...
Caíram do céu, pedras e brasas, armas do meu agressor,
A dura maldade retirou por um momento a minha vida.
Um intenso ódio me consumindo sempre a queimar.
Meu mêdo, por um dia alguém eu nunca querer amar.
Vá criatura, pro interior do inferno ardente,
Com esse cruel e pecaminoso destino demente.
Nunca mais quero vê-lo em minha frente.
Caminho com essa imensa dó de mim,
Com essa mágoa, ferida aberta sempre a me arder...
Caminho por essa terra muito só, enfim;
Terra de injustos destinos, onde tento sobreviver.
Quero que um dia qualquer eu possa talvez voltar a ser feliz.
Sempre estou tentando entender as pessoas que me olham,
Mas que não enxergam essa inesquecível e profunda cicatriz.