HAITI - A BOMBA ATÔMICA SEM UMA ROSA
Uma bomba atômica sem a rosa //
Um tsunami sem águas do Pacífico//
Um tremor de terra veio do nada//
Das forças que habitam um núcleo escondido//
Das forças que não são vistas nem mensuráveis////
Milhares de megatons que se juntam num estampido//
Que sacode o mar duro e às montanhas flexíveis//
E o chão se fez gente de sangue e de gritos//
Das forças que habitam um núcleo atomizado//
Que não tem hora para a explosão emergir //
Na caída da noite ou no claro do abismo//
Na hora do amor dos jovens apaixonados //
Na hora que os pássaros procuram a sombra das árvores//
Na hora que o padre levanta a hóstia sagrada//
Na hora das mulheres famintas de comida , sexo e riso//
Em que as crianças se balançam no aberto do parque//
Em que os bêbados e mendigos que não temem o perigo//
O chão se abriu numa ciranda macabra e dantesca//
Visão do inferno na terra de um paraíso//
Da floresta verde e da mata fechada e dos bichos exóticos//
A cidade de areia e concreto se fez pó entre gritos e lágrimas//
Por entre sangue e carnes e gritos e ossos triturados//
Por entre choro e dor a dura surpresa de olhos antônitos//
A profecia se cumpre em um dia ensolarado e de céu plasmado//
(Só sobrou a imagem do Cristo empoeirado na igreja que a senhora Arns morreu)
Uma bomba atômica sem a rosa //
Um tsunami sem águas do Pacífico//
Um tremor de terra veio do nada//
Das forças que habitam um núcleo escondido//
Levou uma cidade e um povo sofrido//
Milhares de mortos de quem ainda se achava vivo//
De fome de guerra de uma nação sem chefe sem partido//
Uma tragédia que sentou-se na bagagem da outra//
Pegando carona numa miséria explícita//
E mandou o carro da morte e da fome andar para o próximo precipício//
Um choro da África nas costas do Pacífico//
De um povo escravo do seu próprio destino//
Desta vez não foi a rosa de Hiroshima//
não foi a muralha de água no Pacífico//
Foi as ondas do núcleo atomizado//
As forças que saíram do núcleo adormecido//
Chegou para matar crianças e velhos//
Chegou para arrassar casebres e palácios//
Não foi a morte morrida da fome//
Não foi a morte ordenada por um capacho//
Foi a morte anunciada em vida//
Foi a morte que os vodus falavam//
Veio no escuro da terra batida//
No navio negreiro da mãe África//
Uma bomba atômica sem a rosa //
Um tsunami sem águas do Pacífico//
Trouxe a Morte que saiu do nada//
Das forças de um núcleo escondido//