Exatamente
I
Perdi a tarefa de respirar, hoje, pela manhã
Era o fado.
Era um simples esquecimento e um leve afogamento
Mas sabia que o rearranjo dos átomos sem vida
Que habitam o universo desde o princípio
Fizera-me perder a tarefa de respirar hoje, de manhã.
Quinze bilhões de anos de ficar sem respirar hoje.
O amanhã ignorado, se o soubesse ler
Já o veria escrito hoje
Como encontro o passado anotado nas coisas.
Exatamente igual
E exatamente igual a conhecer os nomes dos antepassados.
Era um destino sem Deus
Que me fazia afogar, hoje de manhã.
Era eu sozinho à mercê do fado verdadeiro
De pé, aos pés de sua esteira (infinita?).
Ah! Quisera conhecer os sinais para prever o Niágara
Exatamente como se adivinha as órbitas dos planetas.
II
Depois de amanhã estarei feliz.
Talvez contribua de alguma forma inesperada
Eu, para a minha própria felicidade.
Chamaria a isso de controle.
Pegaria as rédeas da minha vida com as mãos
E, cidadão do mundo que sou, possuiria a vida
A minha vida
A única vida que me é dado possuir.
Chegaria cedo então ao barqueiro
E diria Quero atravessar o rio nesse ponto
Exatamente.
Teria as rédeas de minha vida nas mãos
Mas para isso não basta querer
Gostaria de saber exatamente a data da travessia
E assim saberia também a data de antecipar:
Não posso cair, por engano num desses mecanismos
Que são utilizados pela Vida para nos enganar
E de fazer simular contingências
Essa enorme impressão de livre-arbítrio
Em que nada se desvia de seu curso
A não ser quando o desvio é o próprio curso.
A fina impressão de escolha.