Espectro
Oh! quantas horas não gastei, sentado
Sobre as costas bravias do Oceano,
Esperando que a vida se esvaísse...
Estrelas do sofrer, — gotas de mágoa,
Brando orvalho do céu! — Sede benditas!
Fagundes Varela (Cântico do Calvário).
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Ainda ontem, pela noite escura,
Ao cemitério fui fazer visita.
Depositei as flores amarelas,
Sobre o teu leito de amargura infinda.
Pelo trajeto, como eu fui cismando!
E, relembrando do passado triste,
A mão de gelo da proposta insana,
Tão logo viu-te e logo te sumiste;
Deitaste cedo! Oh, como tu brilhavas!
Feito uma estrela pelo céu da vida.
Eras a ave de douradas asas,
Que alumiava a tormentosa lida.
- Eras um anjo! E como palpitavas!
Batendo forte ao passo da ventura.
Bebeste amores e ofertaste beijos,
Mas hoje tremes nesta tumba escura...
Sinto saudades de teus lindos sonhos,
Que me embalavam e me acalmavam a ira!
Sinto saudades de teus lindos hinos,
Na voz sagrada da Divina Lira...
Éramos uno! como o sol e a lua,
Que se abraçam no correr dos anos
Ou como a vaga que tão mole beija
A praia linda feito tênues panos...
Sinto saudades quanto te apressavas,
E me fazias suspirar amores!
Mas hoje, vejo-te tão só, deitado,
Pobre cativo de cruéis horrores...
Assim espero o dia da passagem,
Em que meu corpo deitará, e então
No mesmo leito salpicado em flores
Em que agoniza um pobre coração!
Descansa em paz! O sono da ventura,
Te ofertarás futuramente anelos.
E os pesadelos que hoje te atormentam,
Serão sanados pelos sonhos belos!
- Meu coração! Eu trago o peito em chamas!
Negra ferida - a chaga da saudade.
Tu morto estás e´u continuo andando
Alma sem vida em plena mocidade...
De que me importa os dias do porvir,
Sem ter comigo tua divina luz?
Pois velarei por ti eternamente,
Aos pés gelados desta Santa Cruz!
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Passados os anos, neste campo Santo
Jaz uma estátua com o peito aberto!
E dentro dele há uma cruz dourada,
Espera´cordar o coração - decerto!