ANATOMIA DA VIDA (LEIS INTRANSIGENTES)

A menina passa na rua:

descalça, com frio,

somente com a pele nua.

Há nela uma imensa vontade de estudar!

Não pode: nasceu pobre... há pré-conceitos.

Mas mesmo assim, um sonho, uma vontade de lutar.

Que ironia do destino, digamos injustiça:

Falta de inteligência da espécie humana!

Éh... A vida nos mostra cada situação cruel...

“- Pudera eu fazer algo por essa menina! Que de tudo sofreu um pouco.”

Alegrias? Poucas!

Tristezas? Muitas!

Vou ao supermercado e encontro seu semblante emoldurado na vidraça.

Vou a capela encontro-a perante o altíssimo orando.

“- Olhai por mim!” dizia ela.

Lágrimas me vêem aos olhos.

“- Ajudai-a, Senhor!” peço eu.

“- Não só a ela (continuo), mas a tantos outros seres humanos na situação dela.

Faz-se uma claridão, e vejo os braços do altíssimo abrirem-se num abraço terno e confortador sobre ela.

Assisto a tudo emocionada!

Acordo para a realidade e vejo que foi apenas imaginação.

Ou não, sei lá... Ás vezes da vontade de sair da realidade e deixar fluir somente a emoção.

Durante a noite, em meu estado inconsciente, vislumbrei belas imagens com aquela meiga criança.

Uma menina de joelhos, vestida de branco, sorridente perante os pés do altíssimo.

Com o dia rompendo a aurora saio para a rua e me deparo novamente com ela: rosto sujo, descalça e penso:

“- Como a vida é estranha? A pouco a vi bela e agora a vejo desfigurada pelas circunstâncias da vida.”

“- Gostaria tanto de saber o que a fez conhecer esse lado cruel e triste da vida?”

Passo o dia remoendo isso.

Já em casa, ao anoitecer, ligo o aparelho que nos mostra a realidade nua e crua da vida.

As imagens taciturnas na TV tocam o meu intimo.

Tento, ao menos, pensar em coisas belas. Não consigo! Lágrimas escorrem por sobre meu semblante triste e cansado.

Saio para a rua. Encontro cores, luzes, diversão...

Virando a esquina, me deparo com um corpo frágil, estirado a beira da estrada a escorrer sangue na alameda chuvosa.

“- Nãooooooo Senhor!!!” ecoa o meu grito no vazio. “- Por que deixaste isso acontecer?”

Não demora muito, vejo-me cercada por uma multidão.

Retiro-me vagarosamente daquela cena mesquinha e covarde.

Tal cena, não teria me deixado enojada, se aquele corpo frágil não tivesse sido o daquela menina inocente. Menina que como lema só teve tristezas e desilusões.

Rumo a minha casa por uma ruazinha pequena, quieta, triste, fria e chuvosa, sem mais motivos para viver.

Caminho apenas por caminhar.

Choro! A chuva esconde o meu pranto e sigo adiante!

Jeana Andréa

Rio Negro/PR 04/04 e 22/04/1991

JEANA ANDRÉA
Enviado por JEANA ANDRÉA em 18/01/2010
Código do texto: T2037196
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