Eterno retorno do Sofrimento
Repentino como um átomo ou uma supernova
Que se dissipa no vácuo do esquecimento,
Por vezes, o velho e rabugento Sofrimento
Vem-me visitar ao brilho da lua nova.
Quem nasce já deve saber desde cedo:
– Cá só há esse Sofrimento e meia-verdade!
Quando se sobe a escada da idade,
Distancia-se desse fácil segredo.
Imagem monocromática do futuro do presente;
Pré-cognição angustiante do acontecimento não concretizado.
O prateado fio da vida fora cortado,
Porém persiste o ser do ente.
É uma contínua e dura prova
Encarar tal súbito depauperamento
Espiritual! O que sobra de sentimento
Utilizo para cantarolar triste trova.
O que me dói é um mal antigo,
Talvez de séculos atrás.
É algo que enlanguesce, assaz
Que, agüentar, quase não consigo!
Serei breve no mundo, a parteira
Assim predizia acerca da permanência
Do meu ser cheio de consciência
Até o fenecimento – sorridente caveira.
Desenho o esboço tétrico da minha cova!
Dessa vez há de se concretizar o mortífero advento
Da minha alma evaporada no sidéreo vento
Onde tudo se renova.
Elevar-me-ei além do Eu egoíco predeterminado
Pela queda da centelha divina na terra finita,
Encarnada em perecível matéria desdita,
Para fundir-me ao Todo eternizado.
19/12/2009