Eterno retorno do Sofrimento

Repentino como um átomo ou uma supernova

Que se dissipa no vácuo do esquecimento,

Por vezes, o velho e rabugento Sofrimento

Vem-me visitar ao brilho da lua nova.

Quem nasce já deve saber desde cedo:

– Cá só há esse Sofrimento e meia-verdade!

Quando se sobe a escada da idade,

Distancia-se desse fácil segredo.

Imagem monocromática do futuro do presente;

Pré-cognição angustiante do acontecimento não concretizado.

O prateado fio da vida fora cortado,

Porém persiste o ser do ente.

É uma contínua e dura prova

Encarar tal súbito depauperamento

Espiritual! O que sobra de sentimento

Utilizo para cantarolar triste trova.

O que me dói é um mal antigo,

Talvez de séculos atrás.

É algo que enlanguesce, assaz

Que, agüentar, quase não consigo!

Serei breve no mundo, a parteira

Assim predizia acerca da permanência

Do meu ser cheio de consciência

Até o fenecimento – sorridente caveira.

Desenho o esboço tétrico da minha cova!

Dessa vez há de se concretizar o mortífero advento

Da minha alma evaporada no sidéreo vento

Onde tudo se renova.

Elevar-me-ei além do Eu egoíco predeterminado

Pela queda da centelha divina na terra finita,

Encarnada em perecível matéria desdita,

Para fundir-me ao Todo eternizado.

19/12/2009

Marcell Diniz
Enviado por Marcell Diniz em 07/01/2010
Reeditado em 07/08/2011
Código do texto: T2016858
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