ULTIMO DEZEMBRO

Sentado no corrimão do viaduto

O lugar de suicídio

Olha para o asfalto duro

Lençol de piche

Escuridão da madrugada

Dezembro que se finda,

Incompletos 24 anos que

O fim exige!

Imagina o banho do seu sangue

Quente rubro a manchar o

Corpo moreno arregaçado

Ate alguém encontrar.

Carros parando na extensão

Surpresa por deparar

O cigarro ‘inda aceso no chão

Sem nenhuma boca pra tragar.

Tiram o corpo sem vida

O trânsito precisa fluir

Tem quem observa atônito

Há que acompanha frio,

Outros jovens que voltam da noite

Bêbados não compreendem daquilo.

E pensa que investigarão seu quarto

Revirarão as coisas

Buscarão algum motivo

Da derradeira decisão;

Encontrarão uma carta breve

Lá não há qualquer adeus;

Apenas uma teoria d’outra vida

E uma ironia à renúncia.

Lembra de sua mãe e família

Dois gestos que a natureza deu

Ele que um dia foi criança

Cantava sua ciranda

Nas tardes ensolaradas em casa.

Tempo que a vida era lugar seguro

Não havia solidão ou subterfúgios

Que maltratassem o espírito.

Agora basta um abraço

Rumo ao colo do diabo.

Sem poesia! Sem drama! Sem espetáculo!

Um fim com gargalhadas lúgubres diante

Do medo que ele desdenha

E do devir que ele debocha.

Paz perpétua ou prisão sem volta?

Separar-se da consciência desta vida

Vida que lhe é sogra.

É tão fácil morrer!

Como provar que estou vivo?

Fazer o que puder para sobreviver

E porque não para morrer?

Nada começa se não vivermos.

(...)

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