O que resta?
Por que há este gosto de sal nos meus dentes?
Gritei pela madrugada afora e nenhuma flor apareceu na minha janela.
Cansei de tudo como quem se morre de amor.
Cansei de ter o ar sem ao menos ter a chance de respirá-lo.
Nada vale a pena.
Tudo também vale.
Dancei no meio da rua ontem, bêbado.
Bêbado de ficar com a testa suada de pavor por saber que mais uma vez, a noite seria apenas, ou a única, companhia que eu poderia ter.
Ter o céu como guia e o nada como resposta
Há mágoas em mim...
Não há explicações óbvias para o meu existir.
"Minha casa, vazia, transpira uma névoa de desilusão.
As portas do quarda-roupa entreabertas, roupas pelo chão, um grito crispado no ar e um corpo usado por sobre o tapete.
Um ramo de flores de plástico observa a cena. Fecha-se a cortina"
Tenho queimaduras na minha língua e a sensação de que nada foi feito.
O que resta?
Nada. Um grandioso nada.
Fim.