Meu Travesseiro

Vivo num espaço de cinqüenta metros quadrados.

Vivo bem, vivo mal?

Meu travesseiro é quem sabe.

Dentro de mim só me cabe

aquilo que eu não disser.

Aquilo que eu não puder

ver com meus olhos nublados

também cabe dentro de mim.

Distância aumentando assim.

Você vai ficando pra trás,

você vai ficando distante.

Você que foi cara demais,

você que surgiu em instantes

tão raros, difíceis de achar.

Você que não foi muito mais

que a tal da invenção que criei.

Lá fora a chuva me diz...,

o vento me fala feliz.

O olhar que se cala excludente,

na certa não estou mais doente.

Você, uma névoa pairando

no horizonte da minha incerteza.

Tenho só a sutileza

da minha cabeceira impassível.

Você, que nem sei se é crível.

Nada me foi tão possível.

Mas meu travesseiro é que entende

o que se passa comigo.

Rio, 26/04/2006