Fingimento (?)

Busco um sentido nas coisas que faço,

Mas sei que no fundo não encontrarei nada.

Por fora ou por dentro sou escasso,

Vazio, neutro, uma alma apagada.

Minha estadia na terra perdeu a relevância!

Caiam as cortinas teatrais;

Tenho que sucumbir à ânsia

Necrófaga dos verminosos animais.

Fui um magro crapuloso que sonhou muito.

Agora o que tenho de sorte traiçoeira

Para arrastar-me na vida, o único intuito

É o de encontrar minha morte derradeira.

E o “fim” entenda-se “nesse momento”.

Ou seja, a vida passa rápida pela estrofe fria

Quando, no calor do sofrimento,

Tenta-se chegar às últimas conseqüências para produzir uma poesia.

Pessoa (Ele - mesmo) estava certo: se finge ao escrever.

Porém, há uma verdade absoluta

Que não é possível, aos outros, sentir ou ver,

Essa verdade é a angústia, a nossa angústia oculta.

30/5/09

Marcell Diniz
Enviado por Marcell Diniz em 01/06/2009
Reeditado em 24/11/2009
Código do texto: T1626183
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