Novela

Ontem vi a Morte vertendo pranto!

Fui ao encontro Dela

E notei um rosto debaixo do manto

(Lívida face branca como vela).

Surpreendi-me com tanto

Esplendor. Oh como era bela!

Só que ela, em espanto,

Fugiu pela escura viela

Do funéreo paraíso da vida inumada.

Persegui a Moira com muita vontade,

Mas a danada

Preferiu esconder-se na soledade.

E no ermo gritei aos ventos:

“Ó Morte, quero te ver!

Tu que tantos sofrimentos

Trouxe e ainda há de trazer

Por que tens medo de minha presença?

Só porque sou um errante

Mártir que sofre da Doença

Mais humilhante?”

Assim disse esperando uma resposta...

Inesperadamente ouvi um rumor

De que ela estava disposta

A dialogar mesmo estando em langor.

Encontrei-a sentada numa cadeira,

Fitando o vazio da introspecção.

Aproximei-me junto da triste caveira

E senti toda aquela desolação.

Ficamos em silêncio de mãos dadas,

Usufruindo da noite arcana

As maravilhosas gotas orvalhadas

Jamais provadas por qualquer alma humana.

A partir daí o negro amor da Morte

Atingiu-me o peito ardoroso.

E nosso romance é tão forte

Que sobreviverá até o último gozo.

(04/10/2007)