Espíritos Enervados
Entre as nuvens da manhã,
No nascer de mais um dia,
A aurora cintila com agonia
Num suspiro frio de Leviatã.
Chamuscado sonho derrotado,
Em portais do mundo subterrâneo
Tu caíste inerte. Sonho momentâneo,
Por um lucífugo foste molestado.
Nas terras tragadas pelas trevosas
Névoas do Umbral, o tormento
Das almas vãs – no eterno momento
De súplica – putrefaça cem mil rosas.
A montanha desabou na sina,
Destroçou os restos de uma esperança olvidada.
Minha vista está embaçada...
Vejo um túnel... uma luz assassina!
Aqui nesta cidade fantasma,
Moram espectros de sonhos extintos!
E entre esses restos indistintos
Da Mágoa, transfiguro-me em ectoplasma.
Debilitada lua minguante,
No esplendor da noite vazia
Irradia a esquife na qual jazia
A Dor de um ser errante!
E essa Dor ressuscitou voraz, com fúria.
Disposta a sacrificar novamente a esperança,
O amor, a vida, a bem-aventurança...
Em troca de um consolo à sua penúria.
Ser o reflexo duma sombra distorcida
(Num frio ambiente desprovido de iluminação)!
Além da lembrança de afeição
Há possibilidade em se restaurar a vida?
Silente brado do coração trêmulo.
Ele bate... suspira... para.
– Pulsação anelante, rara –.
Agora rígido está na escuridão dum túmulo.
Atro ensejo para no mundo obnubilar-se!
Cair em desgraça, tornar-se inânime,
Sentir as chagas do homem pusilânime.
Enfim, no cárcere profundo, Enervar-se!
(2006)