O OUTRO LADO
Minha alegria se resumia
Na ternura de seu amor,
Em você o carinho e o respeito
Bem longe das futilidades,
Dos preconceitos que ditam regras
E deturpam os valores da verdade,
Sem a pressão do convencional,
Da obrigação social, da hipocrisia.
Até que um dia... Longe de você,
Perdi embrutecido, de tudo a noção,
Passei a viver arrastado pela vida
Com um sorriso nos lábios
E a magoa no coração.
Tentando fugir de mim mesmo
Afundando-me no vicio da mentira
Sentindo-me cada vez mais solitário,
Mais infeliz e abandonado
Sofrendo os vazios de meus dias
Sem objetivo, sem calor.
Em mim, o véu negro da solidão,
O desencanto, a amargura e a dor,
Mascarando uma felicidade inexistente
Lutando para que não percebam
A minha vida inútil e carente,
Fazendo o papel de homem feliz
Aparecendo diante dos outros
Como um vencedor, um forte,
Alguém que conseguiu
Finalmente conquistar a igualdade,
Despertando admiração e a inveja
Daqueles que como eu perderam a realidade.
Minha vaidade se satisfaz com isso,
Mas o coração infeliz,
A angústia que me acomete
Cada dia mais difícil de suportar.
Não tenho mais coragem
Para enfrentar os antigos preconceitos,
Sinto-me preso ao que me sufoca
Sem nada fazer para modificar-me,
Carrego no íntimo o peso da culpa
Consequência de atos passados,
Ao qual não tenho o direito de queixar-me.
Não sei como encontrar razão
Para que consiga reagir, talvez,
Se um dia me deres o seu perdão.