Princesa Vencida
(escrito em junho de 2008)
Ela já teve sonhos...
Já viveu certezas.
Partiu-se ao meio devido a desilusões.
Recobrou-se agarrando-se a fiapos de esperanças...
Tornou a quebrar-se devido a tristezas...
Hoje, é uma caricatura de si mesma...
Boneca de porcelana partida
Em cujo rosto,
Duas pedras de ambar
São seus olhos...
Poços de infinita tristeza,
Em meio a face cuidadosamente pintada...
Ela se disfarça de imperturbável,
Se esconde tão bem em si mesma,
Que tudo que veem é a fortaleza...
Não a princesa perdida,
Não a criatura despedaçada...
Para quem se contenta
Em ver apenas a inexpugnável murada,
Nem imagina que dentro delas se esconde
Uma mulher exausta, agonizante...
Ela não se preocupava com isso
Até pouco tempo...
Não até descobrir o quanto estava cansada.
Encolhida na torre de marfim,
Longe da murada,
Ela deseja que ela se torne seu derradeiro refúgio,
Seu santuário, seu túmulo.
Os olhos de ambar,
Que tanta emoção demostravam,
São espelhos de tristeza,
Onde não brilham mais nem úmidos clarões de vida...
Nessa altura,
Ela sabe...
Morte física é só formalidade.
Ela já está morta,
Não tem mais nada...
Tornou-se lágrima, silêncio, sal e vento.
Até respirar é um tormento,
Pois a lembra que tudo continua...
Que nada mais vai mudar.
E encolhida nas sombras,
Ela deseja apenas dançar,
Nem que seja com os fantasmas...
Até porque ela está, aos poucos,
Se tornando escuridão....
E a princesa vencida,
Boneca de porcelana estilhaçada,
Não sonha com mais nada!
Só deseja uma última vez,
Ouvir músicas alegres sendo tocadas...
Quer vestir-se de cores,
Partir por nebulosas estradas...
Ela sabe que não tem chance...
Entende que sua vida é ausente de sorte...
Por isso deseja, ao menos, colorir sua morte.
Para que, nem que seja, pelo seu falso riso ser lembrada.