Amargo remédio
Sentada diante de uma janela,
Fiquei a ver o dia...
Vi chegar a noite...
Vi a madrugada terminar...
Me deixastes assim,
Sem explicação,
Entregue a dúvida e a solidão...
Dúvida sobre o que dizias.
Solidão por me perder de mim.
Sem chance de me encontrar...
Odeio sentir minha alma se desgarrar....
Por isso, me entrego a insônia
Escutando o vento...
Talvez o frio, o uivo, o lamento,
Do minuano que sopra
Ajude a me consolar...
Ou, talvez,
Os sonhos, consumidos em cinzas,
Esse vento frio
Possa dispersar...
Envolta em pesada coberta
Vi o sol nascer...
Queria viver, queria morrer...
Queria chorar.
Porque fostes me deixar?
Podias, ao menos, ter deixado a inspiração...
Mas a levaste, sem consideração...
Ah, que forma dolorosa de uma alma amputar.
Deixar apenas uma dor a cutucar,
Roubando qualquer alegria
Que poderia se transformar em verso...
Agora entendo...
Fui vítima de um sentir perverso...
Que tudo queria,
Tudo pedia...
Mas na hora que precisei,
Até o consolo se pôs a negar.
No silêncio amargo passou a me deixar,
Perdida na solidão,
Em espera nas horas tardias...
Veneno da noite,
Veneno do dia...
O veneno da desilusão, da depressão,
Do profundo tédio...
A tristeza de amor é um amargo remédio...
Mas sem ela, não hei de me curar.