fetiche
16h na Estrada do Capenha
rua larga, Jacarepaguá
tarde de vento frio
meio cinzenta
o movimento esparso do tráfego
há espaço na rua à vontade
dá vontade de andar
como se fosse pra algum lugar,
mas sem vontade de pensar
não há muita gente na rua
sensação estranha de solidão
misturada com liberdade
daqui a pouco isso muda
mas enquanto não muda, é bom
quem disse que não sei pintar?
posso até me cansar
de escrever,
coisas que não sei dizer,
mas abro meu coração
em busca daquilo que sinto,
às vezes, do que pressinto
vontade me dá de correr
depois, parar só pra ver
se consegui viajar
se consegui me imolar
no que seria a tristeza
ou mesmo se, por safadeza,
pudesse ser a alegria
quem é que me apontaria
uma tarde sem graça?
sem os pardais companheiros
fazendo aquela arruaça
que vi lá em Cambuquira
muitos anos atrás?
aliás, já vai ficando mais tarde
daqui a pouco os carros
e as suas freadas infames
e as suas buzinas doentes
e seus eternos pacientes
propensos a uma isquemia
serão o cenário da tarde,
beirando o início da noite,
e o palco esquecido da rua,
a minha lembrança perdida,
fetiche de uma ilusão
Rio, 23/09/2008