A Quem Doer...
Não conheço cor
Nem se espectro for
Não enxergo por
Sobre nada além da dor
Minhas coisas não sei onde pôr
O meio-dia não me traz calor
O meu relógio só marca rancor
A janela me mostra nada além da dor
Ao sair de casa evito o jardim para não pisar a flor
Uma voz em minha cabeça lembra: nada importa sem amor
Em minha mesa, embriagado, do vinho não sinto mais sabor
Pois tenho o paladar apagado pela mesma e velha dor
O espinho no meu peito não me deixa esquecedor
Não enquanto o velho mel só traz o amargor
À meia-noite durmo com o mesmo fel aliviador
E o sono em sonho desfila a velha e conhecida dor
Sem descanso, sem louvor
Sem truque, sem favor
Com ferida, com clamor
Com a cicatriz e com a dor
Fim? (...) Que dizer, como acabar, onde morar, sem qualquer ardor..?
Tenho o vergão
Latejador
O frio
Aterrador
A laje
Frio e tremor
O teto
Sem cobertor
O ar
Corruptor
O chão
Sem andor
A luz
Sem fulgor
E a companhia
Daquela dor