Desabafar Poético - XXII
O sofrimento é maior que minha esperança
Não deixaste tu intacta uma só lembrança
Para que a porta eu pudesse resguardar
Com as chaves na mão ainda a te esperar;
Cada som memorável já desconhecido pelo ouvido
Cada nota irreconhecível de um passado tingido...
Não haveria maneiras nem possibilidades de recomeço
Há apenas toda a triste história que já conheço!
Com asas cadentes e pôr-do-sol tardio
Todo aquele mesmo vento sombrio e frio
Das melancolias deixadas por tais amores
Que murcharam antes de virar canção...
Vago é o sofrimento da solidão!
Este fantasma persistente das solenidades
Que cortês beija-te a fronte em piedades
Pois mortos já estão teus ardentes fulgores!
O Silêncio torna-te leito e amigo,
Por deveras não dividir nada comigo
Nem as desalegrias que tu mesmo me cria,
Nem as verdades que mato em meus lábios...
Então as páginas se turvam e o tempo agora
Distorce todo o trágico fim de uma aurora
Que jamais pode nascer do fim da noite congelada.
(Como o fogo que incendeia a lúgubre alma torturada)