IMPOTÊNCIA
IMPOTÊNCIA(POR TRAZ DE UMA JANELA)
(Sócrates Di Lima)
No edifício alto da cidade grande,
Numa janela fria,
o vento sacode as cortinas sóbrias.
O meu rosto mórbido num olhar vazio,
Procura entre a poluição à outra face da vida.,
Da vida além das calçadas,
das portas dos botequins.,
Dos quartos de motéis,
do meu próprio “eu” .
Abaixo,
o bêbado entregue a uma garrafa de aguardente,
O policial honesto envolto no seu uniforme.,
O policial corrupto por trás de sua farda,
Corrompendo o mendigo.,
Farrapo da rua,
O político por trás de sua falsa bondade.,
O doutor por trás do seu terno e gravata,
O coronel por trás de sua severidade,
O senhor, por trás do seu impoluto charuto.,
A dama por trás do seu bichinho de estimação,
O ladrão por trás de sua falsa imagem.,
Semeando violência.
O pai ceifando a vida do filho,
O filho a do pai.,
O estuprador, o pedófilo, nas suas insanas taras,
Mostram a figura mórbida da cidade grande.
Eu aqui, por trás de uma simples janela.
Observo, imagino, vejo, participo indiretamente,
Silencio, me entristeço sem forças para gritar,
Me sinto impotente de nada poder fazer.
Por que, o que procuramos?
O que somos e o que fazemos?
Nada...
Nada além de criticar, injuriar, blasfemar.
Somos todos iguais, imutável camuflagem.
Não passamos de vermes, parasitas.,
Comandados por uma sociedade hipócrita,
Somos todos animais racionais.,
na maioria,desequilibrados mentais,
Nivelado aos irracionais.
E, quem contraria?
No nosso “ Eu” ,
Simbolicamente, ou na crua realidade,
somos tão iguais ao pobre bêbado
Que se arrasta pelas sarjetas,
Sem coragem, sem vida.,
E, nessa metrópole quase insana.,
Sutil e profana,
Chamada São Paulo.,
Os homens seguem seus destinos,
Até o dia em que descobrirmos
Que somos humanos
E temos coração e alma.