Muro das lembranças

No muro das lembranças não existe verso ou canto

Lá os ares são de uma seriedade pueril, dessas que passam depressa

E a risada é alta, pra chamar a atenção.

Mas não se engane, pois os olhos logo tornam-se lânguidos

E depois tristes

E depois algo indecifrável e vem a dúvida

E depois não vem mais nada

É sexo.

No muro das lembranças recosta-se uma mulher

Essa mulher de toques apenas na memória

Mulher que é só gestos, só forças

Mulher, eu repito

Mulher

Enquanto a menina canta ela conta piadas

Enquanto a menina dorme ela e eu conversamos baixinho à noite

Do quanto que poderíamos ter sido.

Mas não existe rancor ou mágoa

Já existiu, mas não mais

Não há espaço nesse muro para sentimentos fúteis

Ou para versos raros

Aqui o tempo é de total sinceridade

De descontração

Sem mais deboche

E às vezes, somente às vezes

O momento é de total silêncio.