Anjo de carne e osso

Meu anjo torto já não dorme sobre o mar
Nem flutua em meio às vagas do oceano
Ele apresenta um aspecto tão humano
Que, se me cuida, até custo a acreditar.

​​​​​​Sinto-me nua ao seu escrutínio angelical
Em meu corpo faz-se o arrepio manifesto
Temo que parte do interesse seja infesto
E que o seu exame seja um tanto radical.

Esse meu anjo não tem auréola na cabeça
O seu hábito é espectar sobre o amanhã
Nessa fissura vive a aplicar todo o elã...
E de olhar-me com amor talvez esqueça.

Quem sabe não seja apenas um alheamento
E meu anjo, por meu amor já não se encante
Talvez o vento o carregou pra bem distante
Pra proteger-me o coração do sofrimento.

Não quer dizer que ele não arda palpitante...
E não queime como homem em carne e osso
Apenas que ele não me vê como o colosso
Que põe o seu corpo num estado delirante...

Mas sou a deusa que d'escuma está vestida
E que à luz da lua lhe convida pra valsar...
Nas ondas mansas ao sabor do seu pulsar
E ardentemente acompanha sua investida.

Valsando voa e com ele eu subo aos céus
Em sonhos, pois meu anjo não tem asas.
Nos seus braços eu retorno às águas rasas
E acordo pra vestir todos os meus véus...

Adriribeiro/@adri.poesias
Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 17/05/2021
Reeditado em 17/05/2021
Código do texto: T7257308
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