DESMEMÓRIA
Quero e irei apagar você de mim!
E todas as impressões que me deixou.
Vou vagar solitário pelo país
Em busca de caminhos e solidão
Tenho em meu corpo o vergão
Chaga dos açoites da paixão
E dessa tresloucada aparição
Só me recordo que perdi minha memória!
Vou erguer uma enorme amurada
E meter-me seguro em seu meio
Vir à tona, vez em quando, - não é medo!
É paixão que amedronta, - não a quero mais!
É paixão, essa senhora mordaz
Que escraviza e a mim atemoriza.
Eis a perda incurável de ser amado!
É paixão, definitivamente, não é amor!
É vilipêndio às expensas do equilíbrio
É sucedâneo de tentativa de suicídio
E um gosto amargo do fracasso!
Eu me refaço dessa louca sensação
Eu me desfaço de um braço
Ou de um bem mais valioso
Para deixar essa viciosa encarnação.
Vou fugir de suas marcas
Grosseiras e malacabadas
Vou curá-las em mim mesmo
E depois, encontrarei a paz!
Trago as marcas em meu corpo
Menos sutis que aquelas d’alma.
Parto solitário e sem amarras
Para longe, bem pra longe de suas mãos.