PANGEIA
Pela internet
Ouvi sons zulu
Batidas de pés na terra
Sacolejos de mãos nos ares
Assobio de vozes
Sorrisos na face
E, pisando de lá,
meu pé doía daqui
Gritando de lá
meus ouvidos zuniam daqui
Quando lá dançavam
aqui eu suava
Quando lá cantavam
aqui eu me encantava
Lembranças de uma terra distante
Outrora vizinha de nós
Quiçá fronteiriça de mim
Antes mesmo de haver “Brasil”
Muitos antes de “África” existir
De quando o Rio Paraguaçu
– Sem ser “Paraguaçu”
Nenhuma barragem parava
E, passando pelo “Gabão”
– Quando este nem havia
Desaguava na Pantalassa
Ai, os zulus distantes!
Tão perto de mim!
Tão longe de nós!
Pela internet eu os via
E o que enxergava era o externo
Como uma pele escura
Que se mostra para fora
E se vê com os olhos
Mas o que eu não sabia
E sequer desconfiava
Era que os “"zulus”, hoje
Se comunicam em ianomâmi
Filosofam em alemão
Rezam em latim
Contam piada em português
E raciocinam em iorubá
A internet, pois,
Que encurta as distâncias
Me trouxe de longe
Sons e imagens
De tudo aquilo
Que estava aqui
E eu não sabia!