AQUARELA DE CRIANÇA

Quando eu era pequeno,
Pediam-me o que eu queria ser.
“Quero ser adulto”, eu bradava,
“Pra poder fazer
O que eu bem entender!”
 
Queria comer hambúrguer
De segunda a segunda;
Escolhia Toddy ou Nequik ou Nescau
De olhos fechados
Frente à água mineral.
 
Assistia a meus desenhos
E sonhava com o momento
Que eu estrelaria
Meu próprio show:
Seria no espaço e o cenário teria
Doces espalhados à toda volta.
 
Era bela também
A minha capacidade
De improvisar:
Já fiz música,
Desenho,
Foguete pra lua;
Já fiz arte também,
E essa última parte
Me lembra de quando
Quebrei um vaso da minha vó...
Foi horrível!
 
De ator a detetive,
De pugilista a jogador,
Eu fui de tudo!
Lembro de meu primeiro ato
De rebeldia,
Quando choquei a minha família
Ao aparecer com um braço
Fechado de tatuagens...
Mas calma!, eram apenas aquelas
Que vinham no pão.
 
Quando eu era pequeno, queria tanto crescer...
Hoje, que sou crescido,
Queria tanto voltar a sonhar
Com a Mula Sem Cabeça,
Em vez de ficar eu próprio sem cabeça
Para resolver as pendências
Da vida adulta.
 
Nunca quis tanto escrever ao Papai Noel
E pedir
Um enorme presente:
Que me leve para a noite de Natal
Entregar alegrias
Às boas crianças.
Mas lembrei que hoje
Não basta a carta:
É necessário o currículo
E talvez alguma boa
Recomendação.
 
Quando eu era criança,
Parecia tudo mais fácil.
Meus olhos de aquarela não deixavam
Que o cinza do mundo
Descolorisse meus dias.
 
Mesmo que eu tenha crescido,
No entanto,
Talvez o segredo descanse
Delicadamente repousado
Nos tronos de rei,
Nas histórias de magos e dragões
Que eu visitava.
 
A infância é bonita demais
Para ser tirada de nós
Quando o tempo acaba.
Ela pode – e deve – continuar acesa
No peito,
Brilhando pelas pequenas coisas
Nos olhos
Novamente inocentes
De cada um.
 
Deve ser imortal.

 
Ariel Fedrizzi - 23 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 14/05/2020
Código do texto: T6947431
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