O VIÚVO

Quando ela morreu, quis não ligar

Mas a roupa foi mofando, o jantar esfriando

Nosso lençol não mais se amassando

Tudo foi ficando fora do seu lugar

Não ouvia mais o espinho de suas reclamações

No começo fui gostando. Depois, a saudade

Tive medo de esquecer sua voz nas solidões

Não tivemos filhos, pedaços de eternidade

Me lembro do seu riso frouxo, engasgado

São esse ecos que fabricam as lágrimas

Doces cristais de um bom passado

Aprendi a fazer minha comida, tão ruim

E eu que reclamava do sal. Ai, que dor, querubim

Do livro celestial, foram as mais belas, nossas páginas...

Audsandro do Nascimento Oliveira
Enviado por Audsandro do Nascimento Oliveira em 14/04/2020
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