Recife II - 2.3.2015

Agora chego em casa

desfaço as malas

e ponho cada coisa em seu lugar

mas as coisas não estão mais lá

são estranhas à casa...

e cada roupa, cada objeto

que eu tiro e guardo no guarda-roupas

no banheiro, na estante

relutam e me olham de volta

estão repletos de memórias daí...

e sua casa já não é mais aqui, mas o mundo

que eles habitaram... em um verão

que eu pulei carnaval sem medo do amanhã

com as pessoas que eu mais amei naquele momento

Agora essa camisa está pendurada na cadeira

ela contém seu último abraço

Meu travesseiro está sem fronha

Eu acordei ao lado deles por tantos dias

levantei e fiz café

Agora estou sozinho...

Hoje não vou descer dez andares porque o elevador está

ou não estragado, não importa

Não vou ver ele ao entardecer

Nem posso ir ao cinema no fim da rua

Nem sentar na sacada e rir das histórias absurdas

fumando um cigarro com eles

Hoje eu não vou ser feliz, eu não posso

Minha felicidade ficou lá

e eu fiquei com as lembranças

dentro dessa mala

quase vazia

David Ceccon
Enviado por David Ceccon em 10/12/2019
Reeditado em 20/08/2020
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