ODE AO SUBMUNDO
“A eterna saudade é retornar à primavera infantil.
E por fim, rumar pelos mares inferiores desprendido - viril.”
Mas dentro deste cargueiro coxo
Há outros perigos que não o mar.
Aqui escondem espíritos-mocho
Que te veem atravessar
As penumbras de teus penedos
Sem poderes te desviar
Das geleiras sem luz - teu abismo pessoal.
Arrancando-nos, com olhos de fogo, de labirintos desiguais.
E iníquos, atravessam tuas visões (fugazes); e tapam-te o Sol.
Revelando a sombra das pedreiras Zodiacais.
Meneiam sossegados
Por entre teus desejos-segredo
E tuas vontades-mentira.
Anseiam-te a sós. (Desesperado)
A horda de antífonas; a voz do medo.
Transmutados animagos; fome de Ira.
Anos-milênio se passam,
E nem um segundo envelheces.
Ainda assim, as tochas apagam.
Não há fogo.
Não há fúria.
Não há luz.
Foste fustigado.
Fatídico fausto.
No fim há força!
Já não és quem foste!
Todas tuas carnes frescas
Foram furtadas.
- Não és!
Trucidaram teu anti-Ser.
Os mochos famintos -
Teu fundo frívolo.
O Suicídio Fratricida -
Início de uma forçosa jornada.
Neste tombadilho
Há outro perigo senão o mar.
Há o Homem.
E este tem medo de viver.
Sofrer.
Remar.
Amar.
Que coragem tem quem aceita os caprichos do mar.
Se Perder. Se Render. Naufragar e Afundar.
Não há caminho para o céu.
Há caminho para o fundo…
“A eterna saudade é retornar à primavera infantil.”
Gritai marinheiros! Mergulhai mais fundo!
Homem nenhum sabe nadar.
E perdoai-me a maldição escorpiana!
É necessário renascer!
A vida pela vida!
O mar pelo mar.
Não há outro.
Não há recompensa.
Ser. Viver. Morrer.
Vamos homem peguem todos os remos.
Hasteiem todas as cordas.
Eu quero o prometido!
Uma vida.
A Glória!
A tenra infância.
Perdida no mar do mundo.
O ser de mim.
Não ser do outro.
A lúdica canção.
O “x” do mapa.
Origem.
E o marinheiro sem lar,
Nem horizontes;
Corsário sem passado.
Ousou navegar…
Ele e a Saudade.
Retornar por onde nunca tinha ido.
Sonho de criança -
Um alvorecer infantil.
Hernâni Arriscado - Ode ao Submundo.