ESPAÇOS VAZIOS

Olho, não vislumbro, vejo espaços vazios.

No lugar, outrora, uma velha Paineira,

Nosso mundo encantado, onde moleques sapecas,

Alçávamos vôos querendo imitar os passarinhos,

E triste vi que em seu lugar restaram só matos,

Pois abateram sem piedade nossa felicidade,

Que estendia seus galhos tão fortes para nos acolher.

Limitações de crianças ousadas, mas traquinas,

E mesmo nos tombos onde o balanço ia e voltava,

Só restavam os risos, as gargalhadas tão felizes,

E a velha Paineira nos abrigava nos galhos imensos,

Tendo espaços para os passarinhos que se acasalavam,

E o João de Barro tão quietinho fazia sua casinha.

Lembro com saudades da saracura cantando no banhado,

Anunciando que naquele dia no fim da tarde a chuva viria,

E quase com precisão que o homem do campo confiava,

A precipitação com gotas intensas saciava a planta sedenta,

E o paiol vazio recebia as dádivas que a natureza oferecia,

A colheita farta que deixava a família abastecida.

Não vejo mais espaços para as árvores darem suas sombras,

Acolherem os passarinhos que cantavam felizes na alvorada,

Pois em seus lugares são edificados construções de alvenarias,

Frias por não terem galhos para as crianças se divertirem,

E as moto-serras impiedosas com suas afiadas facas cortantes,

Derrubam árvores majestosas com décadas e décadas de vida,

Disfarçando os danos que causam por novas leis ambientais,

Exigindo reparos com plantio de mudas em outros lugares,

E o oxigênio que as derrubadas emitiam para formação de nuvens,

Só as gerações futuras quem sabe um dia poderão desfrutar.