RETORNO...
 
Estou em qualquer estação...
Mas o inverno
exerce-me uma atração...
Sempre paro em algum terminal
e pego o trem das lembranças...
Isso é quase um ritual...
Geralmente é manhã...
Essas manhãs densas...
Quando ainda se aninha o jaçanã...
E a clâmide cobre as estradas...
Os vales... Os cumes...
E estende-se pelas invernadas...
É quando também rasgo
o véu do passado...
e então bebo de um só trago
cada um de seus momentos...
Pois,foi justamente no inverno
os mais alegres ou cinzentos.
É por isso que lá volto...
Para rever-me...
E nessa volta sempre solto
esse “eu” encarcerado
em minhas realidades...
Ah! Recordar é um brado
que sempre me renova...
E nessas tantas voltas
há sempre uma coisa nova
pelas auroras boreais...
Nevoentas ou borbulhantes...
Fascina-me os risos e até os ais
que se perderam pelo caminho,
feito eco “na taça dos vales”...
Ah! O inverno é meu escaninho...
entre os flocos de neve
ainda adormecidos...
E eu vou abrindo tão de leve
 “ os pergaminhos de fogo”...
Às vezes rasgados... às vezes esquecidos...
Ah!O frio tem qualquer coisa de outrora
depois que as estrelas partem
sempre no início da aurora...
E eu gosto de me agarrar à fumaça
do velho trem...
Ouvir o apito que não disfarça
essa vontade de chegar
“onde a história é contada”.
Onde a fé é pura como o ar
nas dobras das campinas...
E fresco é o pão... E quente é o café...
As frutas doces e tão finas!...
Ah! E a natureza toda se espreguiça...
Bebe-se o sol morno...
O canto dos pássaros enfeitiça...
E tudo, tudo desperta
seus “brancos afazeres”,
 pois a vida é uma janela aberta...
Ao tempo, ao vento, ao amor...
Germina o milho, o feijão, o arroz...
O sol brilha a pino ou no alvor... 
Escuta.  Soa o apito
atravessando os velhos bosques...
Ah! Eu me agito
ante essa lembrança que me recebe
e me soletra cada instante vivido
na “poeira liquida” e que me bebe
como se bebe o leite fresco...
os rocios das folhas...
Ah! Essa lembrança é um refresco...
Escuta. O tempo canta
nas “cordas tangidas pelo vento”.
um canto de retorno que me encanta...
E abre-me de par em par
a grande porta de carvalho...
Ah! Como é bom retornar...
E rever o que de mim não partiu 
buscando sonhos torpes...
Na vida nem tudo floriu...
O inverno foi tão forte
e a neve vestiu os campos...
Ah! Mas tenho sorte...
Sorte de encontrar a loura menina
inda me esperando...
Tão doce e tão franzina!
Mas que tão sábia se comporta...
Eu posso tocar tua mão...
E renascer no limiar da “porta”...
 
 
 
 
 
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