COMO UM RIO
Um tempo só de água, que deságua
no curso lento da história...
Um leito d'água doce , areia e pedra
num vale qualquer, esquecido na memória...
Inscrito, o tempo volta à superfície,
do rio das vertigens e amores...
Transbordam pelas margens realidade e sonho
e inundam um velho coração...
Ah! Rio das causas profanas, das mães-joanas,
das ninfas e mulheres , com suas roupas e bacias...
Lavadeiras de peles curtidas ao sol , mãos calejadas
causas perdidas....E um rio que lava toda a dor....
Um menino chora_ é apenas um menino ainda
e terá uma vida inteira a chorar...
O povo ribeirinho desconhece verso e rima
mas faz poesia ao luar...
Tempo das mariposas, das cigarras, tempo quente
de só água doce a refrescar...
Lá fora um rio fecunda a terra sêca
aqui dentro uma angústia a apertar...
Um pássaro colorido, um remanso, água pura, sabiá...
A esperança é verde, o amor é azul , o desejo rubro ...
E o rio transparente sussurrando: passará, passará....
MARCIA TIGANI_ ABRIL 2013