O exílio do poeta
Vivo em um país estranho
Rodeado de lobos famintos;
Foi descoberto, desamparado,
Saqueado, humilhado e esquecido.
Que estranho é o exílio de um poeta,
Dentro de sua própria terra...
Quem é que vai pensar nele
Se a sua própria pátria é abandonada,
Expulsa de seu mísero quintal?
Sua terra é sem-terra e sem chão!
Cortaram a sua língua,
Trocaram-na por outras estrangeiras.
As aves que aqui gorjeavam
Foram presas, torturadas
E não voam nunca mais.
Agora só cantam às escondidas;
Por detrás de suas poesias
Desconfiadas tristes e casmurras.
De todo o verde, vivo ou morto,
Cana, musgo, laranjeira,
Água, mar, abacate, verde folha
Esperança, verde azul-marítimo;
Só restam poucas matas matadas
E mentiras de matracas imensas.
São políticos, pregadores, empresários;
Que oferecem os deuses mendigos
Nascidos em manjadas manjedouras
Em sacrifício vivo por dízimos e ofertas.
Dizimam a própria gente à conta-gotas;
De tantas curas enchem cada vez mais
De gente miserável, podre, cega e nua
Imensos corredores de hospitais.