BEIJO PLATÔNICO
Hoje eu desejei tanto um beijo seu.
Minha vontade era tamanha que eu podia sentir o toque dos seus lábios nos meus, tão macios, tão carinhosos...
Senti seus lábios quentes, grossos, tocando os meus bem suavemente, sem ousadia.
Sua boca estava trêmula, como a minha.
Nossos lábios estavam com saudades um do outro, há tanto tempo que não se encontravam.
Hoje, estavam tímidos, acanhados, com medo de se unirem, com medo de se entregarem.
Tanta coisa já aconteceu, tanto tempo se passou, que nossos lábios não tinham certeza se reconheceriam-se.
O beijo não começou na boca, e sim nos olhos.
Um olhar despretencioso, uma imagem sua que ficou guardada na retina da memória.
Um olhar meigo, apaixonado, jovem e sonhador, que não tinha medo de se entregar e revelar o que sentia, hoje estava reservado, rápido, fugitivo. No entanto, nossos olhos se conhecem o suficiente para se entenderem em poucas palavras, poucas olhadas.
Nossos olhares se demoraram mais, parados um no outro, entregando-se. Tudo foi dito no silêncio desse olhar. E quando os olhos se fecharam, sem uma única palavra ser pronunciada, nossa boca não aguentou a distância.
Seus lábios... ah, que saudade deles!! Poderia admirá-los por horas, tocá-los, sentir sua textura, seu tremor, seu calor, seu cheiro. Acariciá-los delicadamente com a ponta de meus dedos, sem pressa para consumí-los.
Quando finalmente nos beijamos, era como se o tempo parasse, e tudo ao nosso redor girasse e se desfizesse e só ficássemos nós dois, beijando-nos delicada e apaixonadamente.
Seu beijo ainda tinha o mesmo sabor da juventude, da paixão sem pretenção. Pude reviver o toque macio de que me lembrava, o carinho que transmitia, o fogo percorrendo por nossos corpos.
Nossa boca não se contentou. De beijos suaves e acanhados, entregamo-nos a beijos apaixonadamente quentes, que unem corpos e corações num mesmo compasso e ritmo. Era como se quisessemos nos tornar um só, e nunca mais nos separarmos novamente.
À medida que nos beijávamos, nossos corpos se fundiam e confundiam. Beijavamos sem reservas, sem medos, sem traumas... apenas deixando que nossas línguas se entendessem, como se entendiam tão bem antes, e retomavam o tempo perdido, o tempo do desencontro.
Não eramos eu e você, mas eramos um mesmo desejo, um mesmo beijo intenso, com a mesma e única finalidade de matar a saudade.
Todo meu corpo tremia, desmanchando-se em suas mãos, desfalecendo-se por seus beijos.
Sua boca, o sabor do seu beijo, seu calor, tudo ainda é do jeito que me lembro ter sido, quando ainda estavamos juntos. Que beijo delicioso o seu, que boca maravilhosa!!
Mas, espere um instante. Não foi assim que aconteceu.
Na verdade, você não está aqui.
Não posso te ver.
Não posso te sentir, te tocar, te cheirar.
Não posso acariciar seus lábios, sentir sua língua, respirar seu hálito.
Não sinto teu olhar me dominando, me confidenciando segredos.
Não sinto suas mãos me envolvendo, me abraçando forte, segurando minha cintura com ternura e paixão.
Não te beijei. Nem posso te beijar.
A razão disso é que você não está aqui do meu lado, não está comigo, não é mais meu.
Seus lábios, sua língua, sua boca, seus olhos, suas mãos, seu corpo, nada disso me pertence.
Não posso ter-te, sentir-te.
Não posso beijar-te.
Não posso beijar-te...
No entanto, em minhas lembranças você ainda está presente, como se tivesse sido hoje.
Em meus sonhos e desejos, seus beijos ainda são meus. E ninguém vai tirar isso de mim.
Deito-me para dormir, sentindo o gosto do beijo que só eu dei em você.