A NOITE DO CURIANGO

NUMA GROTA DESERTA DESSE SERTÃO,

ONDE ATÉ AS ESTRELAS CURTEM A SOLIDÃO,

O CURIANGO SOLTA TRISTE O SEU PIADO.

QUE CORTA O SILÊNCIO DA IMENSIDÃO

ESTÁ FAZENDO CHORAR MEU CORAÇÃO,

ECOANDO, SOBRE UM LUAR TÃO PRATEADO.

A LAMPARINA JUNTO AO CARAMANCHÃO,

POR COMPANHIA A LUA E A CONSTELAÇÃO,

E DE LONGE,OS PIADOS NO DESERTO.

SINTO NA CALMARIA DESSE TORRÃO,

O LUAR,COM SEU SUAVE E BELO CLARÃO

QUE OS PIADOS PARECEM TÃO PERTO.

JÁ O OUVÍ EM NOITES DE ESCURIDÃO,

COMO SE CHAMASSE POR UMA PAIXÃO

ONDE MAIS NENHUM OUTRO SOM EXISTE.

TÃO MELANCÓLICO COMO UMA CANÇÃO,

COMO SE CHAMANDO POR SEU IRMÃO,

FICO OUVINDO,SEU PIADO TÃO TRISTE.

NESSA SILENCIOSA MADRUGADA DE VERÃO,

ESTÁ QUIETA, ATÉ AS ÁGUAS DO RIBEIRÃO,

ELE ESTÁ LANÇANDO NO AR A SUA DOR.

POIS O LAMENTO DESSA AVE DO GROTÃO,

PARECEM VAGAS NOTAS DE UM VIOLÃO,

TENTANDO, ENCHER A MADRUGADA DE AMOR.

SÃO NOITES E NOITES A CHAMAR EM VÃO,

CHAMADOS QUE DEVEM CHEGAR A PLUTÃO,

MAS SÃO SÓ ENDEREÇADOS AO LUAR.

NAS TREVAS ONDE BUSCA PROTEÇÃO,

PARECEM OS PEDIDOS DE UMA PRISÃO,

COMO SE IMPLORANDO PARA ALGUÉM VOLTAR.

AO LONGE,O TRISTE UIVAR DE UM CÃO,

SEGUIDO DO RELINCHO DO ALAZÃO,

PEDINDO PARA O CURIANGO IR EMBORA.

DEVE ESTAR ENTRISTECENDO A AUDIÇÃO,

AO INVADIR OS ERMOS DESSE MUNDÃO

ESSES DOLOROSOS PIOS DE QUEM CHORA.

GIL DE OLIVE
Enviado por GIL DE OLIVE em 01/03/2007
Reeditado em 26/01/2011
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