LUA (eternamente) CHEIA

Há umas horas na noite minha que o tempo pára, sem dizer nada

Guardam segredos da madrugada as folhas mudas da arvorezinha

Que impera pura como rainha e reina sozinha onde está fincada

Na beira extrema duma sacada onde flamulava quando vento tinha

(e se desfolhada - era ventoinha)

O momento estático visto da altura a um mar de angústias me conduzia

De Guaratuba na ponta da bahia ancorado o barco de minha tristura

Sob a umidade da névoa escura mirando atento com esforço eu via

E o baú pesado que antes eu trazia agora é revisto a mim em procura

(e se debatia - feito alma impura)

Nesse vagalhão de tanta tormenta com desesperança a lua então partiu

Eram quase sete sei que ninguém viu sua despedida da manhã cinzenta

O mar prenunciava batalha cruenta e se revolvia como que em cio

No balé fugia a vista do navio que seguia ao Porto onde se acorrenta

(e se despediu - em vaga violenta)

A lua partida se foi novamente e sem seus encantos não enxergo o mar

Nem mesmo a areia posso vislumbrar tudo agora passa muito vagamente

Numa miopia de todo descrente que a melancolia me foi despertar

De que no mês de março vai voltar no dia três - depois da crescente

(e se ela voltar - vou estar contente).

Ness’ínterim vou cerrar meu palco fechando as cortinas da noite sem fim

Se a paciência é a mãe da esperança hei de hibernar em cada despedida

E nesse Recanto de Letras e sonhos guardar do peito o que restou em mim

Até que me abra a lua seu sorriso mais bem cheio do que levava na partida

Eu sei que vou viver a mesma desventura sentida pelo grão-maestro Jobim:

Eu sei que vou viver... “na espera de viver ao lado Seu por toda minha vida”.

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 10/02/2007
Reeditado em 12/06/2009
Código do texto: T376954
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.