LUA (eternamente) CHEIA
Há umas horas na noite minha que o tempo pára, sem dizer nada
Guardam segredos da madrugada as folhas mudas da arvorezinha
Que impera pura como rainha e reina sozinha onde está fincada
Na beira extrema duma sacada onde flamulava quando vento tinha
(e se desfolhada - era ventoinha)
O momento estático visto da altura a um mar de angústias me conduzia
De Guaratuba na ponta da bahia ancorado o barco de minha tristura
Sob a umidade da névoa escura mirando atento com esforço eu via
E o baú pesado que antes eu trazia agora é revisto a mim em procura
(e se debatia - feito alma impura)
Nesse vagalhão de tanta tormenta com desesperança a lua então partiu
Eram quase sete sei que ninguém viu sua despedida da manhã cinzenta
O mar prenunciava batalha cruenta e se revolvia como que em cio
No balé fugia a vista do navio que seguia ao Porto onde se acorrenta
(e se despediu - em vaga violenta)
A lua partida se foi novamente e sem seus encantos não enxergo o mar
Nem mesmo a areia posso vislumbrar tudo agora passa muito vagamente
Numa miopia de todo descrente que a melancolia me foi despertar
De que no mês de março vai voltar no dia três - depois da crescente
(e se ela voltar - vou estar contente).
Ness’ínterim vou cerrar meu palco fechando as cortinas da noite sem fim
Se a paciência é a mãe da esperança hei de hibernar em cada despedida
E nesse Recanto de Letras e sonhos guardar do peito o que restou em mim
Até que me abra a lua seu sorriso mais bem cheio do que levava na partida
Eu sei que vou viver a mesma desventura sentida pelo grão-maestro Jobim:
Eu sei que vou viver... “na espera de viver ao lado Seu por toda minha vida”.