FAMINTA SAUDADE
Como é gostoso me lembrar
Dos meus tempos de criança
Mamãe chamava a merendar
Era então aquela comilança.
Na cozinha o cheiro de curau
Minha mãe só no vai e vem
Arrumava as coisas no jirau
Lembrança mais bela não tem.
Quando era o dia de canjica
Socava o milho no velho pilão
Soprava o farelo na barrica
Sacudia a peneira com a mão.
Não esqueço nunca da tapioca
Saudosa delícia de dar bicota
De leite e farinha de mandioca
Um prato cheio era minha cota.
E o moreninho arroz-doce
Com canela, açúcar queimado?
Se uma menina eu ainda fosse
Na panela sobrava era nada.
E o fofo bolo de fubá então
Assado ali mesmo na chapa?
Delícia de arrasar o coração
Não sobrava nem a rapa.
Os bolinhos fritos, de polvilho
Com leite adoçado ou chá
Tinha também os de milho
Da famosa marca “Sinhá”.
Doces rosquinhas de araruta
Não posso nem me lembrar
Para se comer não tinha luta
Derretia na boca só de pensar.
Não me esqueço do melado
De cana moída no engenho
Comia-se com queijo ralado
Doces lembranças que tenho.
Ideia na cozinha não faltava
Para o nosso lanche da tarde
Mamãe sempre se desdobrava
Era mulher “do lar” de verdade.
Hoje vivo c’a faminta saudade
Desse distante passado suculento
Aquilo sim, era mesmo felicidade
Ah! Longes e ternos momentos!