Uma retreta em tom maior de saudade

Nas ramagens de outros tempos, caminho,

trago passos de saudade.

E, na lira da memória, a canção vai nascendo,

como um antigo retrato.

- Esta noite tem retreta!

É a voz da mãe na hora do almoço.

Anoitece, e o pôr-do-sol se derrama sobre o rio.

É o cenário onde se move

o retrato que caminha em trajes de festa:

o pai, a mãe,

na frente os dois meninos,

calça curta, camisa e colete

e as meninas, que eram quatro,

vestidos iguais, de renda, cinturinha baixa,

fita nos cabelos...

Com passos de um tempo esférico,

o retrato chega à praça colorida de melodias:

uma fanfarra, um clarinete, e a saudade em repiques,

no olhar que espera reencontros.

Explode em ritmos a Lira, acorda a Lua ...

Do manto azul da noite , estrelas descem

e trazem poeiras de luz para o esplendor dos aplausos

à Lira Tubaronense.

Teve sua apoteose a retreta,

mas o retrato antigo ainda caminha na calçada,

em trajes de festa:

meu avô, minha avó

meus tios, minhas tias,

minha mãe-menina, de olhar azul, vestida de renda ...

Com as mãos em concha recolho os passos do retrato antigo,

E na alma, como num búzio,

aconchego a ressonância da canção que vem vindo da Lira ...

O retrato e a canção,

dons entre flor e pérola

que guardo nas ramagens da memória...

Maria Felomena Souza Espíndola