Velha Casa
Velha Casa
Era uma velha casa
velha de ter até teias de aranha
e porões habitáveis
e janelas grandes
e pé direito alto
e assoalho de tábuas finas.
Tinha um jardim
de flores, quantas flores!
Um jardineiro
velho como a casa
sobre elas se debruçava
a tratá-las com desvelo.
Via-se uma lagarta caminhando
sobre as folhas
e mais além outra,
já transformada em borboleta,
alçava vôo.
Parece-me que ali
as tardes eram mornas,
modorrentas e tranqüilas.
Hoje
no lugar da velha casa
ergue-se, imponente,
moderno arranha-céu.
O jardim e o jardineiro,
como a casa,
desapareceram.
Foram-se as flores, a lagarta,
a borboleta.
Junto com todos
foi-se também
a minha infância.
Lu Narbot
Do livro Versos ao Longo do Caminho - Campinas, 2004