O Elias

setembro de 2003,

Meu avô passara.

Passara por mim

e quase deu pra tocá-lo.

Homem bom, de Breves,

puro,

viúvo desde cedo na vida,

abdicou da sacanagem, sua de direito.

Tocador de banda

daquelas que banjo e músicos ficavam cansados nos piseiros

e dançarinos que eram vigiados pelos pais das moças,

ai de quem beijar.

Ia para a roça,

da roça para casa

pentear filha,

catava lêndea

“e continuava homi”.

Radinho de pilha,

jogo do Remo,

sete da noite,

“pára com a zoada, meninu”,

quando o conheci.

Seu Elias, velhinho, não podia mais roçar.

Malmente escutar rádio.

Os nervos reclamaram:

“vou imbora daqui, si não pudé mais passá terçado no matu!”

E foi-se certa noite.

Não foi pro céu. Já era do céu.

Uma bonita jovem de sua mocidade o aguarda:

“cata meu piolhu, Elias,

faz tempu qui eu tô esperandu. Tá aqui a lata”.

Enquanto isso, aqui, nós continuávamos pecando...