Retorno A Ti
Há milênios desconhecidos
Do meu espírito encarnado
Vi o seu último olhar.
Há milênios desaparecidos
Do meu contar imortal
De tempos passados
Escrevi-lhe meu último poema.
Há milênios senti nascer,
Candidamente tendo-a,
Todas As Raízes
Da Árvore Da Criação
Em minha noção de estar
Verdadeiramente existindo.
Há milênios,
Há milênios,
Milênios áridos
Que não acompanham mais
Os meus atuais pensamentos!
Há milênios,
Eu a via!
Como estás hoje,
Minha musa maior e única,
Deusa dos meus
Maiores tempos antigos
Nos quais venerei-te?
Estás feliz certamente,
Pois nascestes antes de nasceres
Para domar a dor
E tomar como tuas
As armas da guerra
Da combativa vida.
Lembro-me nas madrugadas,
Madrugadas quaisquer,
Madrugadas tristes,
Da poesia que ainda
Espiritualiza sem timidez
As minhas tímidas
Cálidas mãos impuras.
Lembro-me de ti,
Primeira amada
Acima de todas as ninfetas
Que já me deram calor,
Acima de todas as mulheres
Que nunca tiveram-me
A alma
Como tu a teves!
Lembro-me de ti,
Lembro-me isento da frieza
De uma medíocre lembrança,
Presença diviníssima
Que inspirava-me!
Lembro-me e duvido
Que este poema
Seja um poema de amor,
Uma declaração chorosa
Da infinita ausência tua...
Este poema talvez seja
O que somente
Tua alma sagrada desconhecida
Sinta o que pode ser
Antes de não ser
Um possível nada.
Talvez o amor esteja
Em cada letra
Aqui presente,
Encarnado em cada frase,
Digno de ser algo.
Algo é o que o tempo quer,
Ele exige toda a profundidade
Da nossa passarinheira
Existência sofredora
Em um globo sufocante
Nada celestial.
O tempo não é cruel,
Como dizem,
Como querem,
Como afirmam.
O tempo sabiamente
Nos rege,
Fomos jovens,
Somos jovens,
Fomos velhos,
Somos velhos,
Desde sempre.
Estou demasiadamente velho,
Muito velho além
Do que é chamado idoso,
Parecendo novo aos olhos
Dos que não vêem
O meu coração ignoto.
Meu coração ignoto,
Tão lânguido coração ignoto
Que um dia preencheu-se
Com a tua existência
De todos os dias preenchidos.
Ainda és tu linda fêmea primeira,
Ainda és tu bruta serenidade primeira,
Ainda és tu fatal doçura primeira,
Ainda és tu
Tudo que vive primeiramente!
És tu alguém que está
No estado de estar além
De mim!
És tu alguém que sorri
Um sorriso do sorriso além
De mim!
És tu alguém que me acaricia
Em carícias de carícias além
De mim!
És tu alguém que me destes
Um dar de dada alegria além
De mim!
Pela Luz que agora me vê,
Madrugada terrível e angustiante
De eternamente presente
Hora de escuridão,
Vá embora,
Leve minha dor
E me traga aquele alguém!
Pela Luz que agora me ouve,
Você que amei
Desde o antes do primeiro
De todos os milênios,
Confesso agora,
Ainda és a única!
Pela Luz que agora me toca,
Retorno a ti,
Estou retornando a ti,
Através deste poema,
Meu novo velho poema!
Perdoe-me pela falta de técnica
Neste afobado retorno,
Pela falta de profundidade
Nas palavras que estão realizando-se
Presentes,
Estava há milênios sem ser
Um poeta de verdade...
Poeta sou,
Poeta formado a partir
Do teu eterno nascimento
No nascimento eterno
Dos eternos nascimentos.
Grandiosíssima angelitude primeira
De feminil roupagem,
Sinto-me agora em ti,
Fecho os meus olhos físicos,
Abro os meus olhos espirituais,
Ouço a tua voz
Que é a voz falando
Todas as vozes...
De olhos fechados,
Guiado pelas tuas mãos
Tocando em minhas poéticas
Mão e pena,
Estou escrevendo,
Estou ouvindo-lhe a voz...
É silenciosa a marcha,
A marcha dos eternos amores,
Tanto vivos como
Falsamente mortos,
Nascentes
Ou mais eternos
Do que são aparentemente
Para a etérea Eternidade.
Vejo a marcha
Com os meus olhos espirituais
E ouço a voz
Do teu eterno coração,
Uma dádiva coroante
De eternas dádivas.
Vejo a marcha
Com os meus olhos espirituais
E ouço a voz
Da invunerabilidade de tua
Eterna alma eterníssima
Que lhe coroa com
Eternos tronos eterníssimos.
Vejo a marcha
Com os meus olhos espirituais
E ouço três vozes...
Abro meus olhos físicos,
A marcha assim continuo
A visualizar,
As vozes tuas dizem-me
A perfeição do que admito
Chamar verdadeiramente
De eterno amor eterníssimo
Realizado em seu eterno todo
Vitalíssimo.
Tudo teu nunca foi meu,
Tudo teu nunca tornou-se meu,
Tudo teu nunca tornou-se
Na perfeição eterna perfeição
Do meu eterno amor
Único com tudo meu...
Ainda assim,
Realizo-me amando-te
Como nunca amarei
Outra menos deusa
Do que ti.
E todo poema nascido
Da minha estranha alma,
Todos que eternamente nascem,
São teus infinitos nomes.
Nomes que iluminam
Firmamentos ainda nem erguidos
E naturezas sombrias que
Tornam-me luz
Com a tua luz.
Luz és tu,
Luz que toquei,
Luz que tocou-me,
Luz que toca-me,
Luz que tornarei a tocar
Neste retorno a ti!
Este retorno a ti,
Tão fácil retorno
Para os ingênuos,
Tão difícil retorno
Para os fortes,
É apenas uma
Eterna continuidade.
Retorno a ti
Dormindo como um bebê,
Sonhador como uma criança,
Inexperiente como um adolescente,
Amadurecido como um adulto,
Cansado como um idoso,
Inerte como um cadáver.
Já deves tu ter entendido
Que eu retorno a ti
Apenas porque eternamente
Viverei retornando a ti.
Retornar é sacrifício,
Não retornar é sacrilégio;
Retornar é tormento,
Não retornar é covardia.
Retornar é a cruzada
Do poeta que não sabe
Mais dizer o nome real
Daquela que ama.
Retornar é caminhada!
Retornar é vôo!
Retornar é pouso!
Retornar é lar!
Retorno,
Retorno,
Retorno,
Retorno a ti!
Milênios,
Dizei-me com vossas
Eternas vozes que
Erguem-se em todos
Os horizontes temporais
O nome daquela
Que amo
E a qual
Retorno,
Retorno,
Retorno,
Retorno!