Luna
Desce com um olhar de ressaca
Olhos de víbora,
Gestos de calhau
Espreitando abismos...
Que encerram
Estrondosos ruídos,
Rumores moucos...
De mármores partidos.
Desce trôpego e confuso
Intemerato de desejos...
Pleno de carícias mornas,
Ondejantes sentidos...
Como feixes rutilantes,
A reluzir estrada vazia
Na madrugada fria...
Que assola e me rende.
Desce maculada e nua,
Ao cair da noite cinzenta
Banhando sonhos...
Celebrando vida.
E, como vulto quebrado
Pressinto volúpia...
A consumir madrugada
Que arde, porém, tarde...
Medos retorcidos n'alma.
Ora revestidos de segredos
Num reflexo intocável,
Por vezes, opaco, sensível,
Na avenida tênue dos desejos...