O MEU MAR SERENOU
(Décimas)

O meu mar serenou na sensação
de perda, de vazio e de abandono.
A placidez me chega em pleno outono,
nos ocasos da última estação.
Sem avisos, sem mais explicação,
o meu mar serenou das investidas
dos mares meus, das vagas despedidas
sub-liminar, lenta e sutilmente.
O meu mar transformou-se, de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

Serenou o meu mar. Idas e vindas
não mais ondeiam com total frequência.
Há recuo das ondas, consequência
das correntezas de esperanças findas.
Espumas branquicentas, desavindas,
acenando saudades repetidas,
falésias ressecadas, esquecidas
dos vagalhões mortais de antigamente.
O meu mar transformou-se, de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

O meu mar serenou. Que faço agora
das praias envoltórias de desejos?
Onde as ondas, levantes de meus beijos
além das barras, pelo mar afora?
O meu mar serenou e me ignora.
Em seu murmúrio já não são ouvidas
as vozes d’além-mar, vozes vividas
nos instantes de paz do amor ausente.
O meu mar transformou-se, de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

Serenou o meu mar, meu paraíso
dos sonhos a ceder-me mais alento
pelas vozes sopradas pelo vento,
pela lembrança longa de um sorriso!
O meu mar serenou no mais preciso
momento das mensagens mal nascidas
das poesias, que foram preteridas
por quem dos sonhos me deixou descrente...
O meu mar transformou-se, de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

Odir, de passagem
oklima
Enviado por oklima em 29/10/2010
Reeditado em 29/10/2010
Código do texto: T2586098
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