TEM UMA DOR NO POEMA...
Meu pai, quando morreu naquele dia,
morreu apenas parte dele.
Do inteiro que ele era,
grande parte foi perdendo pela vida...
Tornou-se triste e morreu um tanto dele.
Por mais que se fizesse,
não lhe chegava a alegria,
nada lhe era bom que o contentasse...
Depois de perder o entusiasmo resta pouco.
Resta nada se não quiser se erguer e seguir...
O dia e noite misturam-se, tornam um escuro só.
Depois é o coração, que bate, bate não sabe por quê.
Se não lhe escapa um sorriso por quase nada,
É porque quase nada lhe sobra na verdade.
Um mundo entre a cabeça e os pés da cama,
Mundo não é, nem cama. É prisão de um ser livre.
Meu pai que não sorria nem chorava,
porque nada mais lhe tocava de verdade.
Tudo fizemos. Eram médicos de corpo, de mente
e de alma. E remédios e remédios que não remediavam.
Deve ser a tristeza um vício
que facilmente se torna dependente.
O caminho mais curto que há é a falta
de desejos e a ausência de sonhos reais ou irreais.
Meu pai foi morrendo pouco a pouco
pelo caminho. Naquele dia em que a
vida de fato lhe deixou, ele não era mais ele,
era, na verdade, um sombra fraca do que foi.
(Meu pai morreu de enfisema pulmonar
mais depressão em dezembro último).