Chapéu de palha
Que mundo estranho este em que vivo, um mundo do qual nada eu entendo.
Tecnologia de ponta, lixo produzido aos milhões, fast-food aos borbotões
Nos shoppings centers brilhantes, onde compramos efêmeras satisfações.
Na casa vazia de amor, a tela de um computador o espaço vai preenchendo.
Há um novo apêndice entre nós: o celular viva-voz, que não nos deixa sequer um instante sozinhos,
Traz um toque personalizado que anuncia a chegada do amado prá fashion menina adolescente.
O cinema três dimensões coloca os sonhos ao alcance das mãos, faz a vida insossa mais atraente.
O bate-papo on-line nos põe a disposição miríades de gelados corações propondo novos caminhos.
Troco toda essa parafernália por uma festa em Maracangalha, ouvir uma banda de pífanos, sentir uma alegria real;
Assistir as evoluções de uma quadrilha, dançar um forró bem tocado e pedir prá manhã não chegar.
Comer batata com leite, andar a esmo nos campos, sujar a cara de manga, no límpido rio me banhar.
À tarde encontro os amigos na rua, serenata prá noite marcada, estrelas no céu sem conta, Lua com brilho total.
Vou pegar meu chapéu de palha, minha alpercata de couro, fugir correndo daqui, antes que seja tarde demais.
Quero reencontrar minha rede, plantar feijão prá comer, fazer a minha coalhada, poder com o silêncio falar.
Não preciso de muita coisa: quero alguns livros prá ler, um pandeiro prá cantar coco embolado e um violão prá tocar.
Este meu mundo eu entendo, do outro nada conheço. Vou carregar pro meu mundo o amor que tanto eu mereço - que tanta falta me faz.
Dá um imenso aperto no coração quando me sinto envolto por esse barulho ensurdecedor que atormenta as nossas cidades de hoje. A mim me parece como um monstro faminto querendo a tudo devorar. Nesses momentos, viajo mentalmente para meu refúgio debaixo de um pé de um umbu, revejo as coisas que povoaram a minha infância e adolescência, reatando laços ancestrais que preservam a minha sanidade.
Cidade dos sonhos, manhã da segunda Terça-Feira de Fevereiro de 2010
João Bosco