SAUDADE
Um dia você se mandou de mim,
pegou suas malas, falas e foi sem fim,
nem lembro mais a última vez que te vi,
foi embora de um jeito que nunca entendi.
Aquele dia foi o pior da minha vida,
mas como tudo nela, vira ferida,
o tempo é senhor, vem e cicatriza,
a gente até esquece do que mais precisa.
Você foi um grande amigo, sabia,
não tinha porta fechada, nem mal dia,
o teu ombro estava sempre pronto pra mim,
e eu mal sabia que tudo acabaria enfim.
Quem te levou não pediu licença,
nem quis saber se estava na minha hora, que pena,
mas essas coisas não são como a gente pensa,
mas mostram como a nossa alma é pequena.
Hoje cada vez tenho menos saudade,
cada dia você vai mais longe, cada dia a dor menos arde,
essa é a lei da vida, que posso fazer?
Não adianta lamentar, o caminho é mesmo esquecer.
Mas hoje tudo isso acordou diferente.
Aquele cara tão distante, está vivo do lado,
trouxe seu cheiro, seu brilho, seu abraço amado,
trouxe seu colo, seu carinho, sua alma e seu corpo presente.
Meus olhos ficaram chuvosos, como isso dói,
uma coisa forte que nunca senti, e como corrói,
e de repente foge tudo aquilo que tanto fazia esquecer,
e volta um tempo que achava que nunca iria perder.
Mas um dia os nossos barcos vão atracar no mesmo cais,
e assim vamos nos abraçar só para que eu possa te dizer
obrigado por tudo que fez por mim, meu pai.
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Dedicada a meu pai, Gerd Silbiger (Geraldo), bravo sobrevivente do Holocausto, nascido em 1924, que veio ao Brasil para fincar novas e vigorosas raízes, por quem tenho a maior saudade do mundo, desde 2002, desde sempre.
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