Mantiqueira
No fogão, a lenha vai esquentando a janta
E a noite gelada vai caindo sobre a serra
O nevoeiro se espalha pelos arvoredos sombrios
Eu acendo o lampião da cozinha
Enquanto o radio à pilha termina as notícias
Saio para varanda onde a noite já se salpica de estrelas
A silhueta escura das montanhas vai ganhando forma
Seus vales guardando as lendas, os segredos e as estórias
A viola vai tocando, dedilhando lembranças
O sereno vai caindo lentamente e molhando a terra preta
Enquanto a noite avança e o sono não vem
A música vai de casa em casa
E o sabor da dança e da bebida
Vai levando nossa alegria pelo vale
Nas ruas de pedra e nos bosques os lampiões vão se apagando
A escuridão da noite nos convida para a mata
E debaixo das árvores nós cantamos nossos causos
Deixamos nossas marcas no tempo
E esse tempo vai passando depressa
Aqui a vida continua a mesma
Nossos pés tocam a terra fria e nossa alma toca o rio
Foi aqui que construímos nosso sonho
É aqui que pretendemos morrer
Nesse vale, nessa terra onde todo mundo se conhece
Tudo é tão simples e ao mesmo tempo tudo é tão nosso
Amanhã a alvorada virá me despertar
E estarei na estrada para bem longe
Mas sempre vou lembrar, sempre vou guardar comigo a memória
Até o dia em que voltar para nunca mais sair