DETRÁS DA PORTA

Tantos caminhos cruzei
nos meus passos peregrinos,
buscando novos destinos,
que de buscá-los cansei.
Pensei passado e voltei,
mantendo a mesma passada,
para a casa abandonada
verberando voz de morta.
Um ranger, detrás da porta,
duma chave enferrujada.

Vidros vagos nas janelas
carcomidas por cupins
o resseco dos jardins,
cheiro mortiço de velas.
Num balcão, velhas panelas,
uma moringa quebrada,
uma jarra desprezada
pelas águas da comporta.
Um ranger, detrás da porta,
duma chave enferrujada.

Nessa casa eu me criei
sob os olhos de meus pais,
dos irmãos, que nunca mais
pela vida os encontrei.
Meus pais aqui enterrei
numa triste madrugada.
Ele, com ela agarrada
num punhal de ponta torta.
Um ranger, detrás da porta,
duma chave enferrujada.

Silêncio no sofrimento,
sequer do vento vem voz.
A saudade e eu, a sós,
pesando em meu pensamento.
Pela casa um só lamento
que chora mas não diz nada.
Lamento de dor calada,
como canção natimorta.
Um ranger, detrás da porta,
duma chave enferrujada.

Odir, de passagem.
oklima
Enviado por oklima em 24/11/2009
Reeditado em 26/12/2009
Código do texto: T1942351
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