SAUDADE
Tem dias nas vidas das gentes
Que o amor , lhes parece ,
Espreitar de longe ,
Que a dor profunda presente
Lhes transportam a um olhar errante
À sombra de um balanço sem teto ,
De um bálsamo , seco , sem cor .
Dias de festas , sem luz
E noites de amor ausentes.
Presença fúnebre de mortes
Sem dia
E uma alucinante dor de agonia .
Agonia incerta de algo que se cria ,
Se faz nascer
E se vislumbra seu,
Agonia profunda de um amor sem lua ,
Sem mar,
Sem chão ,
Sem teto ,
Sem irmão.
E , no coração das gentes ,
De repente , nota-se a dor ausente ,
Na alegria insistente
De uma mentira sentida.
Sente-se afago na agonia ,
No calor profano da meia idade
E só então se sente :
Que a agonia estará sempre presente.
E , em vão , despede a dor,
Em vão , a alegria se expande ,
Porque a dor presente é maior ,
Mais profunda que o amor que consente.
Em vão o desespero tenta ,
Em vão , o desespero espera .
A palavra não vem ,
A cantiga não chega ,
A pessoa amiga e querida não virá,
Afastou-se com a dor ,
Com a desesperança pela vida ,
Pela incerteza da conquista.
E o coração das gentes chora ,
Chora pela incerteza da dor ,
Da despedida ,
Dos momentos de dor esquecidos,
Dos momentos de amor lembrados ,
A cada instante,
A cada saudade ,
A cada dor.