SAUDADE

Tem dias nas vidas das gentes

Que o amor , lhes parece ,

Espreitar de longe ,

Que a dor profunda presente

Lhes transportam a um olhar errante

À sombra de um balanço sem teto ,

De um bálsamo , seco , sem cor .

Dias de festas , sem luz

E noites de amor ausentes.

Presença fúnebre de mortes

Sem dia

E uma alucinante dor de agonia .

Agonia incerta de algo que se cria ,

Se faz nascer

E se vislumbra seu,

Agonia profunda de um amor sem lua ,

Sem mar,

Sem chão ,

Sem teto ,

Sem irmão.

E , no coração das gentes ,

De repente , nota-se a dor ausente ,

Na alegria insistente

De uma mentira sentida.

Sente-se afago na agonia ,

No calor profano da meia idade

E só então se sente :

Que a agonia estará sempre presente.

E , em vão , despede a dor,

Em vão , a alegria se expande ,

Porque a dor presente é maior ,

Mais profunda que o amor que consente.

Em vão o desespero tenta ,

Em vão , o desespero espera .

A palavra não vem ,

A cantiga não chega ,

A pessoa amiga e querida não virá,

Afastou-se com a dor ,

Com a desesperança pela vida ,

Pela incerteza da conquista.

E o coração das gentes chora ,

Chora pela incerteza da dor ,

Da despedida ,

Dos momentos de dor esquecidos,

Dos momentos de amor lembrados ,

A cada instante,

A cada saudade ,

A cada dor.

Therezinha Henriques
Enviado por Therezinha Henriques em 04/10/2009
Código do texto: T1848394
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