Para Maria Marta...
No sul, nos idos de quarenta,
Nasceu uma mulher forte,
Que me carregou em seu ventre,
E a morte desafiou,
Antes de três primaveras eu contar.
Desafiou e venceu,
Mas quis o destino,
Que há oito anos atrás
Aos anjos fosse se juntar.
Seu nome?
Maria Marta...
Senhora duas vezes,
Professora e esposa,
Mãe querida...
Guerreira que abraçou a vida,
Até a morte a calar.
Tenho saudades de teus olhos serenos,
De tua voz mansa e doce,
Do teu sorriso a me confortar...
Partiste em um dia,
Deixando a casa vazia,
Com três fantasmas a nela circular...
Fantasmas ainda vestidos de carne,
Chorando pelos cantos,
Sentindo o frio que a tua ausência continua a causar...
Ainda parece que te verei a porta,
Embora saiba que estás morta
E que nunca mais poderei te abraçar.
Enchias a casa de riso,
O jardim, de flores,
Nossa vida de amores,
Com tua doçura sem par...
Mesmo após tantos anos
Ainda te vejo arrastando vários panos,
Rumo a máquina, pra costurar...
Talvez o que me doa agora
Não seja o fato de teres ido embora
Deste mundo no qual vivo a vagar...
O que me dói, minha mãe,
É que não podes usufruir de nossas vitórias,
Não podes mais ler as histórias
Que tanto me fizeram sonhar.
O sonho que tecias não pareceu,
Porém, mãezinha...
E nessas, horas, sozinha,
Escrevendo entre lágrimas cada linha,
Que eu percebo
Que tua casa sou eu.
É minha irmã.
Tua neta.
Teu amado
(que casou novamente,
mas diante de tua foto, já vi suspirar).
Tua casa é esse coração apertado,
De saudades a chorar.
Tanto tempo teve que passar
Para mim perceber
Que nunca nos deixaste realmente.
Eu sou fruto de tua semente,
De teu amor,
De teu sonho.
Isso ninguém vai me tirar.
Mesmo que o mundo pare de girar...
Mas que sinto tua falta,
Eu sinto,
Mãezinha...